A verdadeira diferença entre orar e recitar orações

As duas categorias de pessoas estão separadas por um abismo!

Um é atestado pelo lado severo do dever.

O outro na vertiginosa e inebriante costa do amor.

Existem os recitadores. Felizmente, existem aqueles que oram.

Os primeiros ficam satisfeitos quando moem com os lábios toda a série prescrita de fórmulas.

Outros sentem a necessidade de estabelecer contato com o coração.

Para alguns, a oração ... são orações, devoções, práticas.

Para outros, a oração é um diálogo com você.

O recitador está preocupado com o número.

A intensidade da comunhão, a qualidade do relacionamento, está no coração.

O recitador se apega às palavras; a pessoa que ora também está muito familiarizada com o silêncio.

Para o primeiro, a questão fundamental é: "O que devo dizer?"

O outro considera a oração como uma possibilidade inédita de um esperado e desejado “face a face”. É, portanto, surpresa, alegria, abertura!

Do lado das orações, o tédio, a monotonia, o "trabalho" nos lábios predomina.

Na oração impõe-se a vida, a espontaneidade, o frescor (o que não significa facilidade, nem ausência de esforço).

Ao recitar, a oração é caracterizada pela velocidade. Ao ouvir os membros de certas assembleias que "dizem as orações", parece que se ouve pedras a bater, com movimentos acelerados, na encosta de uma montanha.

Vozes que se perseguem freneticamente, se oprimem, se superam, até o baque final e desejado do “amém”.

Quem ora, por outro lado, não é tocado pela pressa. Ele sobe lentamente, com calma, com passos leves, o caminho da contemplação silenciosa. Seria um absurdo correr.

Ele respira profundamente. Pare para observar o panorama envolvente, familiar e surpreendente.

Cada vez que o descobre, ele o inventa, como se fosse a primeira vez. E é capaz de maravilhar, de descobertas fascinantes.

Quando os outros chegam ao fundo, ele se esforça para chegar ao início.

O recitador percorre a oração como uma estrada, onde tudo é previsto, regulado, sinalizado. O importante é chegar. Ele pagou o pedágio!

A pessoa que ora explora a floresta sem limites da oração. É essencial descobrir uma Presença.

Ele tem a impressão de receber a oração como um presente.

Alguém "conhece" as orações. O outro não sabe para onde a oração o leva.

SE AS ORAÇÕES FOREM SOMENTE RECITADAS, SÃO UM “SOM”.

A ORAÇÃO AUTÊNTICA É LEVE.

O recitador, depois de esgotar a dose prescrita de orações, sente-se bem.

A pessoa que ora sente uma sensação indescritível de paz.

O primeiro acertou as contas.

O segundo ficou rico.

A linha divisória é precisamente aquele irreprimível "Em vez disso ..."

A atitude fundamental é a de esperar.

Quem não sabe esperar mostra-se inapto para orar, negado para orar.

A posição de espera requer uma aplicação que desestimule os despreocupados, os improvisadores, os neuróticos coletores de emoções. Esperar significa literalmente “tender para”.

Esperar é uma posição que assume, ocupa a pessoa como um todo. A espera traz uma incrível harmonia e unidade da pessoa.

Na oração, interpretada como espera, a criatura é apreendida pelo essencial.

À primeira vista, quem espera dá a impressão de estar perdendo tempo, de não ter o que fazer.

A expectativa da oração, por outro lado, é positiva. É plenitude. Atividades. Reunião antecipada.

Quem espera não tem tempo para outras coisas. Ele está total e exclusivamente ocupado em espera.

A oração, além de nos tornar freqüentes “outro mundo”, nos projeta para um “outro tempo”.

O tempo de Deus, seus ritmos, não são nossos.

"... Aos teus olhos, mil anos são como o dia de ontem que passou, como vigília da noite ..." (Salmo 90,4)

Pedro sublinhará a mesma "discrepância": ".. Diante do Senhor, um dia é como mil anos e mil anos como um dia .." (2 Pedro 3,8)

A ansiedade de chegar deve ser substituída pela capacidade de ouvir. A espera é feita de calma, paz, paciência, liberdade, longos tempos, capacidade de resistir ao desânimo e à decepção.

É necessário perceber que na oração nada é concedido à velocidade, ao frenesi, à agitação. Nada vem no tempo que definimos.

Deus se mantém esperando. Deus freqüentemente se atrasa, mas apenas em nossa pressa, não em Sua promessa.

Uma distância infinita se abre entre nós e ele.

Não somos nós que o cobrimos. Só Ele pode cancelar.

É Deus quem se aproxima.

Nenhum passo de nossa parte pode nos levar a alcançá-Lo.

Do nosso lado, a única opção que temos é esperar.

Só a espera reduz, em certo sentido, essa distância abismal.

Esperar significa que não podemos suportar a distância.

É Deus quem se move em nossa direção em oração.

Esperar significa, paradoxalmente, ter consciência de que… somos esperados!

Isso mesmo: sou eu que espero e, ao mesmo tempo, sou esperado.

ESPERANDO PARA DESCARTAR TEMPO.

É O TEMPO QUE NOS TEM.

O tempo de espera é o tempo de esperança.

Esperamos porque esperamos.

A espera é uma ponte lançada para o que ainda não existe, mas do qual sentimos a necessidade agonizante, para uma presença possível da qual não podemos prescindir.

"A minha alma espera mais pelo Senhor do que pela alva" (Salmo 130,6).

Muitas vezes esperamos um Deus “surpreendente”, que atenderá todos os nossos pedidos em pouco tempo e de acordo com as nossas expectativas.

Pelo contrário, o Deus “surpreendente” é o oposto de um Deus refém dos nossos planos …………. “Os teus caminhos não são os meus caminhos” (Isaías 55,8).

Devemos preferir um Deus que nos surpreende a um Deus que nos agrada; devemos confiar em Suas respostas mais do que em nossas perguntas, em Seu presente do que em nossos pedidos.

Devemos confiar em Suas maravilhas mais do que em nossos desejos!

A verdadeira oração não entrega um Deus ao nosso alcance, em grande parte previsível, mas nos permite abrir um vislumbre da liberdade infinita de Seu Amor.