Devoção e oração: reze mais ou reze melhor?

Ore mais ou ore melhor?

Um mal-entendido sempre difícil é o da quantidade. Na demasiada pedagogia da oração, a preocupação quase obsessiva com o número, as doses, os prazos ainda domina.

É natural então que muitas pessoas "religiosas" façam a tentativa desajeitada de inclinar a balança para o seu lado, acrescentando práticas, devoções, exercícios piedosos. Deus não é um contador!

".. Ele sabia o que há em cada homem .." (Jo 2,25:XNUMX)

Ou, de acordo com outra tradução: “… o que o homem carrega dentro…”.

Deus só pode ver o que o homem "carrega dentro" quando ora.

Mística de hoje, Irmã Maria Giuseppina de Jesus Crucificado, Carmelita Descalça, advertiu:

“Entregue seu coração a Deus em oração, ao invés de muitas palavras! "

Podemos e devemos orar mais, sem multiplicar nossas orações.

O vazio da oração em nossa vida não é preenchido com a quantidade, mas com a autenticidade e a intensidade da comunhão.

Oro mais quando aprendo a orar melhor.

Tenho que crescer em oração em vez de aumentar o número de orações.

Amar não significa amontoar a maior quantidade de palavras, mas estar diante do Outro na verdade e na transparência do próprio ser.

° Ore ao Pai

“... Quando rezar, diga: Pai ...” (Lc 11,2).

Jesus nos convida a usar este nome exclusivamente na oração: Pai.

Pelo contrário: Abbà! (Papa).

"Pai" contém tudo o que podemos expressar em oração. E também contém "o inexprimível".

Por isso vamos repetir, como numa ladainha incessante: "Abbà ... abbà ..."

Você não precisa adicionar mais nada.

Vamos sentir a confiança crescer em nós.

Sentiremos, à nossa volta, a presença exigente de um número infinito de irmãos. Acima de tudo, seremos tomados pelo espanto de sermos crianças.

° Rezar à Mãe

Quando você ora, você também diz: “Mãe! "

No quarto evangelho, Maria de Nazaré parece ter perdido seu nome. Na verdade, é indicado exclusivamente com o título de "Mãe".

A "oração em nome de Maria" só pode ser esta: "mamãe ... mamãe ..."

Mesmo aqui não há limites. A ladainha, que é sempre a mesma, pode durar indefinidamente, mas certamente chega o momento em que, após a última invocação "mãe", ouvimos a tão esperada mas surpreendente resposta: "Jesus!"

Maria sempre conduz ao Filho.

° Oração como uma história confidencial

“Senhor, eu tenho algo para lhe dizer.

Mas é um segredo entre você e eu ”.

A oração confidencial pode começar mais ou menos assim e então se desdobrar na forma de uma história.

Piano, simples, espontâneo, em tom suave, sem reticências e até sem amplificações.

Este tipo de oração é muito importante em nossa sociedade em nome da aparência, da exibição, da vaidade.

O amor, acima de tudo, precisa de humildade, modéstia.

O amor não é mais amor sem um contexto de sigilo, sem a dimensão da confidencialidade.

Encontre, portanto, na oração, a alegria da ocultação, da não ostentação.

Eu realmente ilumino se eu puder me esconder.

° Eu quero "brigar" com Deus

Temos medo de dizer ao Senhor, ou pensamos que é inconveniente, tudo o que pensamos, que nos atormenta, que nos agita, tudo sobre o que não concordamos em absoluto com Ele. Pretendemos orar "em paz".

E não queremos reconhecer o fato de que, primeiro, você tem que passar pela tempestade.

Chega-se à docilidade, à obediência, depois de ter sido tentado pela rebelião.

Os relacionamentos com Deus tornam-se serenos, pacíficos, somente depois de terem sido "tempestuosos".

Toda a Bíblia propõe insistentemente o tema da contenda do homem com Deus.

O Antigo Testamento apresenta-nos um "campeão da fé", como Abraão, que se dirige a Deus com uma oração que beira a temeridade.

Às vezes, a própria oração de Moisés assume as características de um desafio.

Moisés, em certas circunstâncias, não hesita em protestar apaixonadamente diante de Deus, sua oração demonstra uma familiaridade que nos deixa desconcertados.

Até Jesus, no momento da prova suprema, dirige-se ao Pai dizendo: "Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?" (Marcos 15.34:XNUMX).

Quase parece uma repreensão.

No entanto, o paradoxo deve ser observado: Deus continua sendo "meu" mesmo que tenha me abandonado.

Mesmo um Deus distante e impassível que não responde, não se comove e me deixa sozinho em uma situação impossível, é sempre "meu".

Melhor reclamar do que fingir resignação.

A tonalidade do lamento, com acentos dramáticos, está presente em vários Salmos.

Duas questões atormentadoras surgem:

Porque? Até?

Os Salmos, precisamente porque são expressão de uma fé robusta, não hesitam em usar estes acentos, que aparentemente violam as regras da "boa educação" nas relações com Deus. rendido, nos braços de Deus.

° Rezando como uma pedra

Você se sente frio, seco, apático.

Você não tem nada a dizer. Um grande vazio por dentro.

A vontade bloqueada, os sentimentos congelados, os ideais dissolvidos. Você nem quer protestar.

Parece inútil para você. Você nem saberia o que pedir ao Senhor - não vale a pena.

Aqui, você deve aprender a orar como uma pedra.

Melhor ainda, como uma rocha.

Apenas fique aí, como você está, com o seu vazio, a náusea, o desânimo, a falta de vontade de orar.

Orar como uma pedra significa simplesmente manter a posição, não abandonar o lugar “inútil”, estar ali sem motivo aparente.

O Senhor, em certos momentos que você conhece e que Ele sabe melhor que você, se contenta em ver que você está ali, inerte, apesar de tudo.

Importante, pelo menos às vezes, não estar em nenhum outro lugar.

° Rezando com lágrimas

É uma oração silenciosa.

As lágrimas interrompem o fluxo de palavras e pensamentos, e mesmo de protestos, reclamações.

Deus permite que você chore.

Ele leva suas lágrimas a sério. Na verdade, ele zelosamente os preserva um por um.

O Salmo 56 nos assegura: "... Recolha minhas lágrimas em sua pele .."

Nenhum está perdido. Nenhum é esquecido.

É o seu tesouro mais precioso. E está em boas mãos.

Você certamente o encontrará novamente.

As lágrimas mostram que você está sinceramente arrependido, não por violar uma lei, mas por trair o amor.

O choro é uma expressão de arrependimento, serve para lavar os olhos, para purificar o olhar.

Depois disso, você verá mais claramente o caminho a seguir.

Você identificará mais cuidadosamente os perigos a evitar.

"... Bendito és tu que choras ...." (Lc 7.21).

Com lágrimas você não pede explicações a Deus.

Você confessa que confia nele!