A oração de bênção para obter todas as formas de graça
“... Bendito, porque fostes chamados para herdar a bênção ...” (1 Pedro 3,9)
A oração é impossível se a pessoa não tiver um senso de louvor, o que implica a capacidade de ficar maravilhado.
A bênção (= ber 'ha) ocupa um lugar de destaque no Antigo Testamento.
É como "uma comunicação de vida de Jahweh".
Todo o relato da criação é pontuado pelas bênçãos do Criador.
A criação é vista como uma grandiosa "obra da vida": algo bom e belo ao mesmo tempo.
A bênção não é um ato esporádico, mas uma ação incessante de Deus.
É, por assim dizer, o sinal do favor de Deus impresso na criatura.
Além de uma ação que flui continuamente, imparável, a bênção é eficaz.
Não representa um desejo vago, mas produz o que expressa. É por isso que a bênção (como seu oposto, a maldição) é sempre considerada irreversível na Bíblia: ela não pode ser retirada ou cancelada.
Ele atinge infalivelmente seu objetivo.
A bênção é principalmente "descendente". Só Deus tem o poder de abençoar, porque Ele é a fonte da vida.
Quando o homem abençoa, ele o faz em nome de Deus, como seu representante.
A este respeito, a bênção estupenda contida no livro dos números (6,22-27) é típica:
“… O Senhor os abençoe e os proteja. Que o Senhor faça Seu rosto brilhar sobre você e tenha misericórdia de você. Que o Senhor volte Seu rosto sobre você e lhe conceda paz ... "
Mas também há uma bênção "ascendente".
Assim, o homem pode abençoar a Deus em oração. E esse é outro aspecto interessante.
Em essência, a bênção significa isto: tudo vem de Deus e tudo deve retornar a ele em ação de graças, em louvor; mas, acima de tudo, tudo deve ser usado de acordo com o plano de Deus, que é um plano de salvação.
Fixemos a atitude de Jesus no episódio da multiplicação dos pães: "... Pegou os pães e, depois de dar graças, os distribuiu ..." (Jo 6,11)
Agradecer significa admitir que o que se possui é uma dádiva e deve ser reconhecido como tal.
Basicamente, a bênção, como ação de agradecimento, envolve uma dupla restituição: a Deus (reconhecido como Doador) e aos irmãos (reconhecido como destinatário, compartilhando o dom conosco).
Com a bênção nasce o novo homem.
Ele é o homem abençoado, que está em harmonia com toda a criação.
A terra pertence aos “mitos”, isto é, àqueles que nada reivindicam.
A bênção, portanto, representa um limite que separa o homem econômico do homem litúrgico: o primeiro se mantém para si, o outro se doa.
O homem econômico dispõe de riquezas, o homem litúrgico, isto é, o homem eucarístico, é senhor de si mesmo.
Quando um homem abençoa, ele nunca está só: todo o cosmos se une à sua minúscula palavra de bênção (Cântico de Daniel 3,51 - Salmo 148).
A bênção nos compromete a usar a linguagem em apenas um sentido.
O apóstolo Tiago, com frases quentes, denuncia um abuso infelizmente muito frequente: “… Com a língua bendizemos ao Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens feitos à semelhança de Deus. É da mesma boca que bendizemos e amaldiçoamos sair. Não tem que ser assim, meus irmãos. Talvez a primavera possa fazer jorrar água doce e amarga do mesmo jato? Pode uma figueira produzir azeitonas ou uma videira produzir figos, meus irmãos? Nem uma nascente de água salgada pode produzir água doce ... ”(Tia. 3,9-12)
A linguagem é, portanto, "consagrada" por meio da bênção. E infelizmente nos permitimos "profaná-lo" com calúnias, fofocas, mentiras, murmúrios.
Usamos a boca para duas operações de sinal oposto e achamos que tudo está normal.
Não percebemos que os dois são mutuamente exclusivos. Que não se pode, ao mesmo tempo, “falar bem” de Deus e “falar mal” do próximo.
A língua não pode exprimir a bênção, que é a vida, e ao mesmo tempo lançar um veneno que ameaça e até extingue a vida.
O Deus que encontro quando "subo a Ele" em oração, é o Deus que me obriga a "descer", a procurar o meu próximo, a transmitir uma mensagem de bênção, isto é, de vida.
O exemplo de Maria
É providencial que tenha ficado uma oração de Nossa Senhora: o Magnificat.
Assim, a mãe do Senhor é nossa mestra na oração de louvor e ação de graças.
É bom ter Maria como guia, porque foi ela quem ensinou Jesus a rezar; foi ela quem lhe ensinou o primeiro "berakòth", as orações judaicas de agradecimento.
Foi ela quem fez Jesus dizer as primeiras fórmulas de bênção, como fizeram todas as mães e pais em Israel.
Nazaré logo se tornaria a primeira escola de ação de graças. Como em toda família judia, os agradecimentos eram dados "do nascer ao pôr do sol".
A oração de ação de graças é a mais bela escola de vida, porque nos cura da nossa superficialidade, nos faz crescer na relação com Deus, na gratidão e no amor, nos educa profundamente na fé.
A CANÇÃO DA ALMA
“Ser capaz de encher a terra com misericórdia!
Preencha todas as solidões de hoje, todas
ausência de amor, toda a saudade da hospitalidade.
Sejam mãos de ressurreição.
Tenha a alegria do Cristo Ressuscitado
e presente entre nós;
a alegria da oração que jura o impossível.
A alegria da fé, do grão de trigo,
semeado, talvez por muito tempo,
na escuridão da terra, dilacerado pela morte,
da perseguição, da dor,
e que se torna, agora,
espiga de pão, de primavera ".
(Irmã Maria Rosa Zangara, fundadora das Filhas da Misericórdia e da Cruz)