O arcebispo brasileiro é acusado de abusar de seminaristas

O arcebispo Alberto Taveira Corrêa, de Belém, uma arquidiocese com mais de 2 milhões de residentes na região amazônica do Brasil, enfrenta investigações criminais e eclesiais após ser acusado de assédio e abuso sexual por quatro ex-seminaristas.

As denúncias foram divulgadas pela edição brasileira do jornal espanhol El País no final de dezembro e se tornaram um escândalo de grande visibilidade no dia 3 de janeiro, quando o noticiário semanal da TV Globo Fantástico exibiu uma reportagem sobre o caso.

Os nomes dos ex-seminaristas não foram divulgados. Todos estudavam no seminário São Pio X de Ananindeua, na região metropolitana de Belém, e tinham entre 15 e 20 anos quando ocorreu o suposto abuso.

Segundo as supostas vítimas, Corrêa costumava ter encontros presenciais com os seminaristas em sua residência, de modo que eles não desconfiaram de nada quando foram convidados por ele.

Um deles, identificado como B. na reportagem do El País, estava frequentando a casa Corrêa para um guia espiritual, mas o assédio começou depois que o seminário descobriu que ele estava tendo um caso de amor com uma colega. Ele tinha 20 anos.

Segundo a reportagem, B. pediu a ajuda de Corrêa e o arcebispo disse que o jovem tinha que se ater ao seu método de cura espiritual.

“Cheguei na primeira sessão e tudo começou: ele queria saber se eu me masturbava, se era ativa ou passiva, se gostava de trocar de papel [durante o sexo], se assistia pornografia, o que pensei quando me masturbava . Achei seu método muito incômodo ”, disse ao El País.

Depois de algumas sessões, B. encontrou acidentalmente um amigo que lhe disse que também participava daquele tipo de encontro com Corrêa. Seu amigo disse que os encontros evoluíram para outras práticas, como ficar nu com o arcebispo e deixá-lo tocar seu corpo. B. decide deixar o seminário definitivamente e deixa de se encontrar com Corrêa.

Ele e seu amigo mantiveram contato e acabaram encontrando dois outros ex-seminaristas com experiências semelhantes.

A história do El País inclui detalhes assustadores de histórias de ex-seminaristas. A. disse que foi ameaçado por Correa depois de resistir aos esforços dela para ficar íntima dele. Como B., o seminário descobriu que ela estava se relacionando com um colega.

“Ele disse que contaria à minha família sobre meu relacionamento no seminário”, disse A. ao jornal. O arcebispo teria prometido reintegrar A. se ele se submetesse a seus pedidos. Acabou sendo enviado como assistente de uma paróquia e mais tarde foi autorizado a voltar ao seminário.

“Era normal que ele orasse ao lado do meu corpo (nu). Ele se aproximou de você, tocou em você e começou a rezar em algum lugar no seu corpo nu ”, disse o ex-seminarista.

Outro ex-seminarista, que na época tinha 16 anos, disse aos investigadores que Corrêa costumava mandar seu motorista buscá-lo no seminário, às vezes à noite, para orientação espiritual. As reuniões, presumivelmente ao longo de alguns meses em 2014, incluíram penetração.

As supostas vítimas relataram que Corrêa utilizou como parte de seu método o livro A Batalha pela Normalidade: Um Guia para a (Auto) Terapia pela Homossexualidade, do psicólogo holandês Gerard JM van den Aardweg.

Segundo o relato do Fantástico, as denúncias foram encaminhadas ao bispo José Luís Azcona Hermoso, bispo emérito da Prelazia de Marajó, que tem ampla experiência no atendimento a vítimas de abusos. As denúncias chegaram então ao Vaticano, que enviou delegados para investigar o caso no Brasil.

No dia 5 de dezembro, Corrêa divulgou nota e vídeo em que afirma ter sido informado recentemente de "graves acusações" contra ele. Ele denunciou o fato de não ter sido “previamente interrogado, ouvido ou não ter tido oportunidade de esclarecer esses supostos fatos incluídos nas denúncias”.

Mencionando apenas que enfrentava "denúncias de imoralidade", disse reclamar que os supostos acusadores optaram pela "rota do escândalo, com a circulação de notícias na mídia nacional" com o aparente objetivo de "causar dano irreparável a mim e causando um choque na Santa Igreja ”.

Foi lançada uma campanha de apoio à Corrêa nas redes sociais. O Fantástico lembrou que o arcebispo contou com o apoio de destacadas lideranças católicas brasileiras, incluindo os renomados padres cantores Fábio de Melo e Marcelo Rossi.

Por outro lado, um grupo de 37 organizações emitiu uma carta aberta pedindo o afastamento imediato de Corrêa de seu cargo durante a investigação. Um dos signatários do documento é a Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Santarém. O Arcebispo Irineu Roman de Santarém posteriormente emitiu uma declaração para esclarecer que não havia sido consultado pela Comissão sobre o documento.

A arquidiocese de Belém afirmou em nota que a investigação em curso proíbe o arcebispo e o caso de comentar o caso neste momento. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil [CNBB] não quis comentar. A Nunciatura Apostólica não respondeu aos pedidos de comentários do Crux.

Corrêa, de 70 anos, foi ordenado sacerdote em 1973 e tornou-se bispo auxiliar de Brasília em 1991. Foi o primeiro arcebispo de Palmas, no estado do Tocantins, e se tornou arcebispo de Belém em 2010. É conselheiro eclesial da Renovação Carismática Católica no país.