Medjugorje: A ascensão a Krizevac, uma página do Evangelho

A subida rumo a Krizevac: uma página do Evangelho

Eu ainda era seminarista quando, pela primeira vez, ouvi falar de Medjugorje. Hoje, como sacerdote e no final dos meus estudos em Roma, tive a graça de acompanhar um grupo de peregrinos. Pessoalmente, fiquei impressionado com o fervor com que os milhares de pessoas presentes naquela terra abençoada rezaram e celebraram os sacramentos, especialmente a Eucaristia e a reconciliação. Deixo o julgamento sobre a autenticidade das aparições para aqueles que são competentes no assunto; No entanto, guardarei para sempre a memória da Via Sacra no caminho pedregoso que leva ao topo de Krizevac. Uma subida difícil e longa, mas ao mesmo tempo muito bonita, onde pude vivenciar diversas cenas que, como uma página do Evangelho, me deram ideias para a meditação.

1. Um após o outro. Muitos a caminho.
Um facto – Na noite anterior à nossa Via Sacra, uma freira aconselhou-nos a partir antes do amanhecer. Nós obedecemos. Fiquei muito surpreso ao ver que muitos grupos de peregrinos nos precederam e que alguns já estavam descendo. Tivemos, portanto, que esperar que as pessoas passassem de uma estação para outra antes de avançarmos também em direção à Cruz.

Uma reflexão – Sabemos que o nascimento e a morte são acontecimentos da vida natural. Na vida cristã, quando recebemos o batismo, ou nos casamos ou nos consagramos, temos sempre alguém que nos precede e que nos segue. Não somos os primeiros nem os últimos. Devemos então respeitar aqueles que são mais velhos na fé, bem como aqueles que vêm depois de nós. Na Igreja ninguém pode considerar-se sozinho. O Senhor te acolhe em todas as horas; cada um se compromete a responder em seu próprio tempo.

Uma oração – Ó Maria, filha de Israel e mãe da Igreja, ensina-nos a viver o hoje da nossa fé, sabendo assimilar a história da Igreja e preparar-nos para o futuro.

2. Unidade na diversidade. Paz para todos.
Um facto – fiquei impressionado com a diversidade dos peregrinos e grupos que subiam e desciam! Éramos diferentes, em língua, raça, idade, origem social, cultura, formação intelectual... Mas éramos igualmente unidos, muito unidos. Estávamos todos rezando na mesma estrada, marchando em direção a um único destino: Krizevac. Todos, tanto indivíduos como grupos, prestaram atenção à presença dos outros. Maravilhoso! E a marcha manteve-se sempre harmoniosa. Uma reflexão – Quão diferente seria a face do mundo se cada homem se tornasse mais consciente da sua pertença a uma única grande família, o povo de Deus! Teríamos mais paz e harmonia se todos amassem o outro pelo que são, com suas peculiaridades, grandezas e limites! Ninguém gosta de uma vida atormentada. Minha vida só é bela quando a do meu vizinho é igualmente bela.

Uma oração – Ó Maria, filha da nossa raça e escolhida por Deus, ensina-nos a amar-nos como irmãos e irmãs da mesma família e a procurar o bem dos outros.

3. O grupo fica mais rico. Solidariedade e partilha.
Um fato – era preciso subir passo a passo até o cume, passando alguns minutos ouvindo, meditando e orando em frente a cada estação. Todos os membros do grupo puderam, após a leitura, expressar livremente uma reflexão, uma intenção ou uma oração. Desta forma, a contemplação dos sinais da Via Sacra, bem como a escuta da Palavra de Deus e das mensagens da Virgem Maria, tornaram-se mais ricas, mais belas e levaram a uma oração mais profunda. Ninguém se sentiu isolado. Não faltaram intervenções que trouxeram a mente de volta à identidade de todos. Os minutos passados ​​em frente às estações tornaram-se uma oportunidade de partilhar as nossas vidas e diferentes pontos de vista; momentos de intercessão mútua. Todos se voltaram para Aquele que veio nos salvar para partilhar a nossa condição.

Uma reflexão – É verdade que a fé é um compromisso pessoal, mas confessa-se, aumenta-se e dá frutos na comunidade. A amizade como tal multiplica a alegria e encoraja a partilha do sofrimento, mas ainda mais quando a amizade está enraizada numa fé comum.

Uma oração – Ó Maria, tu que meditaste na paixão do teu Filho entre os apóstolos, ensina-nos a ouvir os nossos irmãos e a libertar-nos do nosso egoísmo.

4. Não pense que você é muito forte. Humildade e misericórdia.
Um fato – A Via Crucis em Krizevac começa com muito entusiasmo e determinação. A trilha é tal que escorregões e quedas não são incomuns. O corpo está sujeito a um grande esforço e é fácil ficar sem energia rapidamente. O cansaço, a sede e a fome não faltam... Os mais débeis são por vezes tentados a arrepender-se de terem começado esta árdua tarefa. Ao ver alguém cair ou passar necessidade, a pessoa é levada a zombar dele e a não cuidar dele.

Uma reflexão – Ainda continuamos sendo seres de carne. Também pode acontecer-nos cair e sentir sede. As três quedas de Jesus no caminho do Calvário são significativas para as nossas vidas. A vida cristã exige força e coragem, fé e perseverança, mas também humildade e misericórdia. Uma oração – Ó Maria, mãe dos humildes, leva as nossas labutas, as nossas dores e as nossas fraquezas. Confia a ela e ao teu Filho o humilde Servo que assumiu os nossos fardos.

5. Quando o sacrifício dá vida. Amor em obras.
Um facto – Perto da décima estação deparámo-nos com um grupo de jovens que transportava numa maca uma jovem deficiente. Ao nos ver, a menina nos cumprimentou com um grande sorriso. Imediatamente pensei na cena evangélica do paralítico apresentado a Jesus depois de ter sido baixado do telhado da casa... A jovem estava feliz por ter estado em Krizevac e por ter encontrado Deus ali. Mas sozinha, sem a ajuda dos amigos, ela não teria conseguido escalar. Se a subida de mãos vazias já é difícil para um homem normal, imagino o quanto deve ter sido mais difícil para quem se revezava carregando aquela maca em que estava deitada sua irmã em Cristo.

Uma reflexão – Quando você ama você aceita o sofrimento pela vida e felicidade da pessoa amada. Jesus nos deu o maior exemplo disso. “Ninguém tem maior amor do que este: dar a vida pelos amigos” (Jo 15,13), diz o crucifixo do Gólgota. Amar é ter alguém por quem morrer!

Uma oração – Ó Maria, tu que choraste aos pés da Cruz, ensina-nos a aceitar o sofrimento por amor para que os nossos irmãos tenham vida.

6. O reino de Deus pertence aos “filhos”. A pequenez.
Um fato – Uma visão linda da nossa jornada foi ver as crianças subindo e descendo. Eles pularam alegres, sorridentes, inocentes. Eles tiveram menos dificuldade que os adultos em tropeçar nas pedras. Os idosos sentaram-se aos poucos para se refrescarem um pouco. Os pequenos fizeram ecoar em nossos ouvidos o chamado de Jesus para se tornarem como eles para entrar no seu reino.

Uma reflexão - Quanto maiores pensamos que somos, mais pesados ​​nos tornamos, mais difícil é a subida em direção ao “Carmelo”. Uma oração – Mãe do Príncipe e pequena serva, ensina-nos a despojar-nos do nosso prestígio e dignidade para caminhar com alegria e serenidade no “pequeno caminho”.

7. A alegria de seguir em frente. O conforto dos outros.
Um fato – Ao nos aproximarmos da última estação, o cansaço aumentou, mas fomos transportados pela alegria de saber que chegaríamos em breve. Saber o motivo do seu suor dá coragem. Desde o início da Via Sacra, e ainda mais no final, encontramos pessoas na descida que nos encorajaram, com o seu olhar fraterno, a seguir em frente. Não era incomum ver um casal de mãos dadas ajudando um ao outro a superar os pontos mais íngremes.

Uma reflexão – A nossa vida cristã é uma travessia do deserto em direção à terra prometida. O desejo de viver eternamente na casa do Senhor nos dá alegria e paz, por mais difícil que seja a jornada. É aqui que nos dá grande conforto o testemunho dos santos, daqueles que seguiram e serviram o Senhor antes de nós. Temos uma necessidade incessante de sermos apoiados uns pelos outros. A orientação espiritual, o testemunho de vida e a partilha de experiências são necessários nos muitos caminhos em que nos encontramos.

Uma oração – Ó Maria, nossa Senhora da fé e da esperança partilhada, ensina-nos a aproveitar as tuas numerosas visitas para ainda ter motivos para esperar e avançar.

8. Nossos nomes estão escritos no céu. Confiar!
Um fato – aqui estamos. Precisávamos de mais de três horas para chegar ao nosso destino. Uma curiosidade: a base sobre a qual está colocada a grande cruz branca está repleta de nomes – dos que por aqui passaram ou dos que foram carregados no coração pelos peregrinos. Disse a mim mesmo que estes nomes são, para quem os escreveu, mais do que apenas letras. A escolha dos nomes não foi livre.

Uma reflexão – Até no céu, nossa verdadeira pátria, nossos nomes estão escritos. Deus, que conhece cada um pelo nome, espera-nos, pensa em nós e cuida de nós. Ele conhece o número dos nossos cabelos. Todos aqueles que nos precederam, os santos, pensam em nós, intercedem por nós e nos protegem. Onde quer que estejamos e façamos o que fizermos, devemos viver de acordo com o céu.

Uma oração – Ó Maria, coroada de flores rosadas do céu, ensina-nos a manter o olhar sempre voltado para as realidades do alto.

9. Descida da montanha. A missão.
Um fato – Quando chegamos em Krizevac sentimos vontade de ficar o maior tempo possível. Nós nos sentimos bem lá. O belo panorama de Medjugorje, a cidade mariana, estendia-se diante de nós. Nós cantamos. Nós rimos. Mas… tivemos que descer. Tivemos que sair da montanha e voltar para casa... retomar a vida cotidiana. É aí, na vida quotidiana, que devemos experimentar as maravilhas do nosso encontro com o Senhor, sob o olhar de Maria. Uma reflexão – Muitas pessoas rezam por Krizevac e muitas vivem no mundo. Mas a oração de Jesus estava repleta da sua missão: a vontade do Pai, a salvação do mundo. A profundidade e a verdade da nossa oração só são obtidas através da nossa adesão ao plano de salvação de Deus.

Uma oração – Ó Maria, nossa Senhora da Paz, ensina-nos a dizer sim ao Senhor todos os dias de nossas vidas para que o reino de Deus venha!

Don Jean-Basile Mavungu Khoto

Fonte: Eco di Maria nº 164