Sexto domingo do tempo normal: entre os primeiros a testemunhar

Marcos nos diz que o primeiro milagre de cura de Jesus ocorreu quando seu toque permitiu que um ancião doente começasse a ministrar. Logo depois, todos na cidade adotiva de Jesus buscaram sua poderosa ajuda. Este foi o momento perfeito para o herói local reunir uma multidão apaixonada. Quando a popularidade repentina levou Jesus a sair para orar e seus discípulos tentaram trazê-lo de volta, ele os convidou a segui-lo em uma missão maior do que eles poderiam imaginar. Se Jesus quisesse provar que popularidade não era seu objetivo, tocar um leproso funcionava. Ouçamos esta história e nos lembremos de santos incomuns, como Francisco de Assis e Madre Teresa, que realizaram ações semelhantes em seus tempos. Mas a compaixão e o poder de cura de Jesus são apenas as dimensões mais óbvias da história. Para colocar esse incidente em contexto, podemos lembrar que muitos dos contemporâneos de Jesus tinham uma teologia implícita de recompensa e punição, acreditando que o universo opera sob uma lei do carma que recompensa o bem e pune o mal. Essa crença pode ser muito bem-vinda para os ricos: o "povo abençoado" pode receber o crédito por sua boa saúde, riqueza e outra variedade de privilégios ou boa fortuna.

A suposição que logicamente deriva desse dogma é que pessoas com déficits sociais (pense em pobreza, doença, deficiência intelectual, origem de classe depreciada, cor da pele, sexo ou identidade de gênero) são responsáveis ​​pela desvantagem que a sociedade lhes concede. Simplificando, torna-se uma maneira de os ricos dizerem: "Estou bem, você é um lixo". Jesus se recusou a ficar preso a esse padrão estrito. Quando o leproso se aproximou dele, Jesus respondeu com um respeito que simultaneamente reconhecia a dignidade do homem e criticava a exclusividade da sociedade. Jesus não apenas curou o homem, mas mostrou como funciona um sistema social alternativo. O toque de Jesus foi um sacramento de cura, um sinal de comunhão e uma declaração de que este homem era plenamente capaz de testemunhar a ação de Deus no mundo. Quando Jesus enviou o homem ao sacerdote, ele estava dobrando em toda a sua mensagem do evangelho. No nível da formalidade religiosa, Jesus mostrou respeito pelo sacerdote, a autoridade religiosa que poderia declarar que o homem era saudável e poderia participar da sociedade. Sob as ordens de Jesus, o homem convidou o sacerdote para fazer o seu trabalho de construção da comunidade. Em um nível mais profundo, Jesus comissionou o homem como evangelista, alguém cuja própria aparência proclamava a presença do reino de Deus e denunciava as práticas exclusivistas que favorecem uns sobre os outros. A ordem de Jesus para que o homem fosse ao sacerdote antes de contar a alguém funcionou como um convite aos líderes; eles poderiam estar entre os primeiros a testificar o que Deus estava fazendo por meio dele. Se quisermos explorar o que esse incidente nos diz, podemos nos perguntar o que os discípulos novatos de Jesus teriam pensado neste ponto. As coisas pareciam ter começado lindamente quando eles deixaram suas redes para assistir Jesus vencer o diabo e curar os enfermos. Eles provavelmente concordaram em segui-lo na área, especialmente considerando a forma como sua fama se refletia neles. Mas então as coisas ficaram arriscadas. O que ele disse sobre eles quando seu mestre tocou os leprosos? Então, por que o menino que conhecia Jesus há apenas um minuto foi enviado como um prenúncio das boas novas? Eles não pagaram suas dívidas deixando suas camas e barcos? Não deveriam pelo menos ser enviados para acompanhar o colega para se certificar de que ele entendeu a teologia corretamente?

Jesus viu as coisas de forma diferente. Do ponto de vista de Jesus, a falta de conhecimento e de experiência do curado qualificava-o acima dos discípulos que pensavam já entender Jesus. Como o ex-cego de João 9, o testemunho deste homem só poderia ser simples: "Eu estava marginalizado e doente e ele me tocou e me curou. " Jesus enviou o homem curado para evangelizar o oficial religioso. Ao fazer isso, Jesus deu a seus seguidores a primeira lição sobre a humildade necessária para se tornarem discípulos. Jesus tocou o homem, curou-o e deu-lhe a comissão de proclamar: "Deus fez coisas maravilhosas por mim, de agora em diante todas as gerações me chamarão bem-aventurado." O mensageiro se tornou a mensagem. A boa notícia do homem curado é que Deus não quer que ninguém seja marginalizado. Sua graça foi que seu Evangelho veio de uma experiência de salvação que deixa a teologia sem palavras. Sua força e coragem brotariam para sempre por saber que ele era amado e aceito e que nada nem ninguém jamais poderia levá-lo embora. As primeiras histórias de cura de Marcos demonstram que a mensagem evangelizadora de um discípulo deve vir de um encontro com a compaixão de Cristo. Os próprios mensageiros se tornam a mensagem na medida em que servem e proclamam com humildade o amor ilimitado de Deus.